terça-feira, 14 de novembro de 2017

Agraciada

Vivendo a vida da personagem, deixei a minha vida suspensa em muitos momentos. De outro lado, a vida da personagem me permitiu acesso a memórias e estados latentes que me enriqueceram, me encheram de vida e me conectaram mais fortemente ao solo do corpo, do presente, do aqui e agora. Parece que tudo o que vivi antes, todas as minhas experiências anteriores, fizeram sentido no momento presente. Na cena da foto, a câmera se movimentava e minha única ação era olhar pela janela. Enquanto estávamos ali, concentrados, em ação, uma garça, atravessando o escuro da noite, cruzou o meu olhar para a cidade. Lembrei que este passou a ser um símbolo de sorte pra mim depois de um dia das bruxas que passei na floricultura de uma amiga especial, que faz tempo não encontro. Naquele dia, tive um choque de beleza e graça vendo uma garça bem branca cruzar um céu muito cinza. Era como se eu estivesse no lugar onde tinha de estar e sutilmente conectada a tudo, para olhar para o céu naquele momento tão exato. Nesta imersão generosa, de doar vida para a personagem, a vida passou a me devolver símbolos antigos, roubados, extraviados, esquecidos. E de olhar para tudo, hoje, eu entendo que sempre escolhi dar de mim o melhor e, por isso, recebo o melhor da vida neste momento e, por isso, se vislumbro o futuro, sei que é o melhor que está por vir.

Esta cidade pra onde olhava a personagem com lágrimas nos olhos, ficou maior dentro de mim.
Te agradeço, Curitiba.
Te agradeço, Andressa.
Agradeço a todos os envolvidos nesta grande aventura e nas aventuras passadas, que me permitiram esta. Terminadas as filmagens acordei sentindo um amor imenso por tudo, por todos, e entendi que o que me acontecia é que me sentia realizada.

Depois daquele momento estou vendo garças atravessando o céu quase todos os dias.



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