sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O melhor presente de aniversário

Em 2014 eu passei o meu aniversário em Curitiba. Uns dias antes, mandei mensagens aos meus amigos curitibanos para me encontrarem no Dizzy Café Concerto no dia 21 de outubro às vinte horas. Lá, comemorando o meu aniversário, descobri que eu e Dizzy Gillespie nascemos no mesmo dia. O bar prestou uma homenagem a ele com jazz da melhor qualidade e eu e meus amigos nos demos muitíssimo bem! Além desse presente do acaso, ganhei outros dois inesquecíveis. Um deles, a edição e captação de um curta metragem oferecido por uma amiga diretora; o outro, um iPod com uma seleção de músicas que eu sabia: seriam de morrer de lindas. Mas o presente sobre o qual eu vou falar, não é nenhum desses. É que, me preparando para a festa, na tarde do dia 21, sentada no chão de um dos quartos da casa dos meus pais que ainda chamo de "meu", criando uma maquiagem para combinar com meu vestido, o telefone tocou. Eu nunca atendo o telefone fixo, mesmo na minha casa em São Paulo. Nas poucas vezes que atendo, desligo quase imediatamente dizendo "desculpa, não é um bom momento" ou "não, obrigada" ou qualquer coisa sem paciência. Na casa dos meus pais também não atendo o telefone, deixo tocar até a secretária atender. Mas o que aconteceu dessa vez, foi que o telefone tocou até o fim, a pessoa do outro lado não deixou recado e num intervalo muito curto, ele voltou a tocar. Eu acho que mesmo entendendo como um sinal de insistência, eu não largaria a minha maquiagem para atender o telefone, se não fosse o dia do meu aniversário. Era o meu aniversário! Então, depois das onomatopeias TRRRRIMMM passarem a soar pela segunda vez, eu larguei o rímel no chão e me apressei para arrancar o telefone sem fio da sua base, que fica no quarto ao lado do meu: "alô!". Acontece que todas as vezes que o telefone toca e eu não atendo, eu tento imaginar quem poderia estar do outro lado. E durante esse intervalo onde o telefone tocou, parou, e voltou a tocar, me pus a pensar que todos os meus amigos mais próximos já tinham me mandado mensagens no Facebook ou whatsapps para me desejar feliz aniversário, e me lembrei das pessoas que sempre me telefonavam no meu dia, todos falecidos em 2014. Lembrei da minha vó Niva: "oi, querida!", do meu vô Leônidas: "minha neta!" e lembrei da prima da minha vó Maria, a Ruth, que também sempre me ligou e que eu já não consigo me lembrar de como me saudava quando eu atendia. Deu saudades do tempo que o telefone tocava por bons motivos. Hoje em dia, quando o meu telefone toca, eu sempre penso que pode ser pra avisar que alguém morreu. Ultimamente, até quando os bebês nascem, é o whatsapp que avisa. Hoje, eu mesma (que prefiro o telefone), penso bem antes de ligar. E quando ligo, penso numa "frase de abertura" que já vá direto ao assunto, para não assustar o meu amigo ou parente do outro lado. Enfim, do outro lado me disseram: "oi Carolina, aqui é a Márcia". (Um balão com uma exclamação sobre a minha cabeça.) A Márcia é uma mulher que nasceu há mais ou menos 60 anos, que conserva a cabeça de menina. Figura especialíssima, que conheceu a minha mãe no aniversário de uma amiga que elas tiveram em comum. Ela guarda de memória os aniversários das pessoas de quem gosta e os da família dessa pessoa de estima -- nesse caso, a minha mãe. Eu nunca conheci a Márcia, mas, claro!, sempre recebi seus telefonemas de aniversário na época que morava com meus pais. Assim que ela falou seu nome, eu me lembrei de todas as vezes que ela ligou. Ela é muito rápida, diz o "feliz aniversário" e logo depois do "obrigada, Marcinha", ela se despede com "tchau". Assim que nos despedimos, eu, já sentada no chão do quarto que chamo de meu, lembro bem da minha expressão em frente ao espelho, silenciosa, com os olhos cheios de água. Eu me senti a pessoa mais sortuda do mundo por estar entre os aniversariantes carinhosamente guardados na memória da Márcia. Ela me fez lembrar de todos os telefonemas de aniversário que eu recebi, com seu gesto simples e raro. Seu telefonema de poucos segundos, me trouxe de presente, a memória dos meus amores de todos os tempos.

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