quarta-feira, 21 de maio de 2014

Ser. E não ser.

Tô cafona, tô piegas, tô cliché, tô démodé. Quero representar um papel. Me perder de mim. -- Eu vejo a tela, eu sou a tela. Me entregar a um autor. -- Meu bom senhor. Um outro coração dando ritmo ao meu. Ser conduzida de olhos vendados por campos desconhecidos. Salas, corredores, quarteirões, bosques, células. -- Você se importa se eu tirar o meu suéter? Ouvir o outro para depois falar. Falar pela cabeça, pelo peito. -- Como quando você é pequeno e esteve chorando e tudo dentro do seu corpo dói. Ombro. Perna e pé. Perna e pé. Me transgredir. -- Eu sou uma gaivota. Vandalizar a 'quarta parede' do mundo. Viralizar 'Verfremdungseffekt' além do espaço do teatro. Dentro de cada um. Atriz e plateia num só ser. E não ser. Derrubar os muros. Escancarar as portas. -- Vou para a rua, vestida em meu sangue. Plantar a beleza na terra úmida da imaginação. -- Delicioso lugar, perspectivas risonhas! Usar a 'memória emotiva'-coletiva. Deletar as fronteiras. País A, país B. Eu e você. / -- Eu vou tocar a parte em que tudo muda. Passo a noite em claro. Tento não me mexer para congelar o tempo. Olhos abertos. -- A solidão é absoluta. Todo o resto é ilusão. O telefone toca. Toca. -- Sou a menina que sonha em ser aquela mulher do pôster do hospital com o dedo na boca pedindo silêncio. A voz da secretária démodé é minha voz. -- Mas sou apenas uma personagem episódica. Com os ruídos das gravações velhas da lembrança, ela soa: Désolé, je suis très fatiguée. /

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em itálico personagens dos autores: Sam Shepard, William Shakespeare, Sam Shepard, Ingmar Bergman, Anton Tchekhov, Heiner Müller, Samuel Beckett, Turguêniev, Ingmar Bergman, Felipe Hirsch, Anton Tchekhov.

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